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As Bruxas que mordem à Noite no Umbigo.

Isto podia ser sobre como foi a minha Noite das Bruxas. Ou sobre as Bruxas que andaram soltas na noite louca de Lisboa. Quiçá do mundo. Sendo as “bruxas” a representação de qualquer fato escolhido para este dia. Podia ser sobre o Halloween e as suas tradições. Escrevo sobre outra coisa. Às vezes duvido se saberei passar esta mensagem de um modo menos aborrecido. Vou tentar.

Gosto muito de me mascarar. Sou de uma terra onde o Carnaval é forte e por isso qualquer razão para me vestir de uma nova personagem e escapar de quem sou realmente é uma nova oportunidade para ser alguém diferente. Ontem não me apeteceu. Não me apeteceu envergar uma roupa escura e ir brincar aos sustos. Ir aterrorizar pessoas. Porque senti que um susto é o que vivemos. Terror é o que já existe.

Sou das pessoas mais optimistas que há. No entanto os meus pensamentos negativos são como as bruxas…

No creo en brujas, pero que las hay, las hay

As bruxas que me mordem são os pensamentos que me ocorrem quando chego à minha cama à noite. De que mais um dia se passou e há novas barreiras na Europa. Que há refugiados a dormir em campos à chuva. Que há crianças que nunca vão ter acesso ao conhecimento. Que há demasiada gente que nunca vai ter metade do que eu já tive. Que o dinheiro está muito mal dividido. Que o poder é das elites. Que por mais que faça pequenas acções, nunca vão ser suficientes para as coisas mudarem porque a maioria dos seres humanos vive no seu umbigo. Sinto uma certa impotência. Confesso.

Por mais que me apetecesse ir festejar para a rua ontem. Não consegui. Porque estas bruxas andam a morder-me muito. Se antes vivia para me divertir ao máximo cada dia que passava sem pensar muito, hoje, talvez pela idade (não porque não adore um bom copo, porque adoro) sinto que deva focar-me noutras coisas. Que a minha energia deve atingir outros fins. Sinto que andei também eu demasiado ocupada com o meu umbigo.

Pronto. Foi só um desabafo. Porque os blogs não podem ser só feito de coisas lindas e inspiradoras. Devem também inspirar a usarmos o melhor de nós para tornar este mundo um sítio mais equilibrado. Ou pelo menos tentar. Que tentar não custa.

 

Photo Credits: ronsrandomstuff

acrushon
2 Comments
  • Marta Chan

    Texto tão verdadeiro Ligia! Tenho fases que deixo de ter fé na humanidade, é nessa altura que viajar faz me voltar a ficar positiva. Três meses à boleia sem dinheiro pela Europa fez me perceber que afinal há muitas mais pessoas boas no Mundo que más. Que ainda existe solidariedade. Que ainda há quem olhe o próximo. Mas, quatro anos depois perdi a fé outra vez. Penso para mim, será que quero pôr filhos neste mundo cheio de desgraça que vivemos? Como é possível chegarmos a quase 2018 e ainda há pessoas sem acesso a agua, a passar fome, crianças sem escolaridade minima, no nosso planeta? Olho à minha volta e vejo pessoas que preferem viver na ignorância e fingir que nada disso está a passar realmente. Alguma coisa está mesmo errada. Somos nós. E o nosso umbigo.

    4 Novembro, 2017 at 19:48 Responder
  • Vânia

    Compreendo-te tão bem!

    1 Novembro, 2017 at 23:48 Responder

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