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Amas o teu trabalho ou o dinheiro?

23h30 – Olho ao relógio. Olho à volta. Ainda não jantei. Estou no escritório. Estou sozinha a trabalhar. Nem me apercebi.

É uma hora exagerada para se estar a trabalhar e hoje tinha imensa coisa para fazer em casa. Não sou viciada no trabalho, quem me conhece sabe que não sou propriamente anti-social e tenho o hábito de me meter em mil projectos mas, perdi a noção do tempo.

Existem dois tipos de mentalidade e visão. Dois tipos de acordar.

Os que precisam de acordar com um brilho nos olhos e não lhes custa saltar da cama (um bocadinho, vá!) e os que desejam aquele dia no final do mês em que a conta fica mais recheada.

Que vida é a nossa? Onde as pessoas fazem algo que não as apaixona, não as faz vibrar, não as faz rodopiar de alegria. Onde passam dia após dia a fazer algo que abominam?

Dizem-me: “Tenho de pagar contas.”

Verdade. Será este o nosso propósito? Viver para pagar contas? Não. Recuso-me a acreditar nisso. Há sempre uma solução se a procurarmos. O problema é que a maioria de nós está no seu sofá a lamuriar-se da vida miserável que tem. Não luta. Não se mexe. Não se encontra. Muitas vezes só sabemos o que não queremos. Não aquilo para que fomos esculpidos. Ainda não sei se me encontrei. Sinto apenas que neste cantinho em que me aceitaram tenho criado magia. Cada dia que passa sinto que a construção do que faço, da minha personalidade ou a minha marca no mundo melhora.

Dizem-me: “Tu divertes-te porque o teu trabalho é giro e é só malta nova!”

Quem me acompanha sabe que foi um percurso difícil até aqui. Eu sou farmacêutica. Trabalho na Zomato. WTF? Fiz imensa coisa estes anos desde que abandonei a minha área. Trabalhei em publicidade e até formação em escolas profissionais dei. Na Zomato, já estive em Conteúdos, Marketing e até fiz Recrutamento. Tenho aprendido imenso sobre os meus limites. O que quero. O que não desejo de todo. Arrisquei tentar algo diferente. Não quer dizer que sei o que quero para o resto da vida. Porque nada é eterno.

Dizem-me:”Deves ganhar imenso, andas sempre a viajar!”

Não. Chamo-lhe eliminar o éfemero das nossas vidas. Não compro roupa a menos que precise mesmo, não almoço fora ou por exemplo, não gasto dinheiro em pacotes de canais de TV que vou ver 1 hora por dia. Não tenho aquecedor na minha casa fria para não gastar em electricidade. Uso mantas. Se a minha avó o fazia no tempo dela, não preciso de ser luxuosa. Tenho feito o maior sacrifício da vida e tenho saído menos à noite. Custa-me. Mesmo muito. Poupo o meu dinheiro todo para viajar, ir a festivais de música ou ter novas experiências gastronómicas. Estaria bem melhor financeiramente, sem qualquer tipo de comparação se tivesse dedicado todos os meus esforços numa carreira na Indústria Farmacêutica como seria expectável. Seria também um esforço imenso.

Dizem-me:”Não queres ter uma casa tua? Um carro melhor?”

Em tempos pensei nisso. Hoje em dia aprendi a viver com a ideia de que não preciso de rotular coisas como minhas. Dava jeito mas não me incomoda que isso não aconteça. Vivo com a felicidade de poder fugir a qualquer momento que nenhum bem material me prende. Sinto que vivemos demasiado presos aos bens materiais e que a sociedade nos incute que temos de “ter” e “consumir”. Não temos que ter. Acredito mais no viver emoções e momentos.

Escrevo este artigo devido a um diálogo que apanhei há pouco. Uma era daquelas pessoas que se queixa porque odeia o que faz mas já lá está há 3 anos porque ganha imenso. “Cada vez que acordo só penso que faltam X dias para sexta-feira”, dizia. “Depois gasto nas férias”. Que horror. Viver a contar os dias para o dia em que se morre e só aproveitar 22 dias de 365.

A outra odiava o que fazia mas a vida estava difícil e por isso “tem de ser, não é?”. Não, não é. Já não se aguenta essa conversa. Mexe-te e procura algo que te faça feliz! Ou pelo menos algo que te faça sorrir!

 

Photo Credits: Victor

acrushon
1 Comment
  • Joana

    Bom post Ligia, como compreendo cada ponto que focaste.

    É sempre mais fácil dizer que “tu fazes isto porque..” do que propriamente começar a frase com “eu não faço porque…”

    No entanto a sociedade, amigos incluidos, muitas vezes são quem mais julgamentos faz. Não se considera “normal” uma mulher aos 30 anos viver num quarto alugado, sem carro ou com carro velho, sem querer ter filhos, casar, namorado, etc. Muitas vezes a liberdade e/ou “anormalidade” dos outros incomoda essas pessoas ditas acomodadas que nada mais fazem que inventar desculpas pela sua própria inércia.

    O objetivo da vida neste mundo terá de ser algo mais que ganhar dinheiro e/ou ter casas e carros. Digo eu, mas pronto eu faço parte da tal “anormalidade” 🙂

    2 Fevereiro, 2016 at 18:52 Responder

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