Acho graça a este dia. O dia das mentiras. Acho mesmo. Pelo facto de se dignificar aquilo que se pratica todos os dias por todo o lado. Disseram-me que o futuro era brilhante, que o amor era como no cinema, que o mundo era um sítio bonito.

Quando era pequena, queria pregar partidas neste dia com o carinho de quem acha a mentira um lugar distante. Uma coisa que só se faz uma vez por ano. Muita gente pensa numa brincadeira especial para dizer aos mais próximos e aos que mais amam neste dia. Na onda da gravidez, do casamento, do fim de uma relação ou começo. As hipóteses eram muitas.

Cresci.

Olho à volta. Para o dia de ontem e de amanhã. Penso na corrupção. Penso nas ideias que a sociedade nos tenta implantar na cabeça. Penso no que algumas pessoas fazem para subir na vida. Penso nas notícias escritas do modo que é conveniente. Penso em tanta falsidade nos outros 364 dias do ano. Ou 365 em anos bissextos como este. Penso nas pequenas desculpas que damos para nos escaparmos de combinações, no tempo que levámos a contar aos nossos pais que fumamos ou em mentirinhas “que não fazem mal a ninguém”. Penso na desonestidade. Penso na xenofobia. Penso em como julgamos os outros. Penso que temos de utilizar mais a verdade. Penso que devia haver um Dia Mundial da Verdade e o quão hilariante seria se nesse dia, o nosso sistema fosse programado para não conseguir mentir. #That’sRealFun

Photo Credits: Daniela Brown