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“Então? O que é que andas a fazer?”

A ambição desmesurada. A pura rotulagem social. Ninguém quer saber do teu hobbie quando faz esta pergunta. Ou como vai a família. Ou que livro andas a ler.

Ninguém que saber o que “somos”.

Falemos cruamente. Na grande maioria querem saber onde trabalhas e quanto andarás a ganhar. Para algumas pessoas, o interesse é se estás casada e com filhos, por exemplo. É tudo uma batalha de egos para ver quem se saiu melhor no final da guerra. Uma competição que nunca acaba.

Querem saber em que gaveta te deverão pôr. Vencedor ou Perdedor? Rebelde ou Correcto? Rico ou Pobre?

Normalmente a esta questão, respondo com coisas aleatórias. Para provocar, é certo. Coisas inesperadas que ninguém teria interesse em ouvir mas, que é de facto aquilo que me apetece contar no momento.

Não estará aquilo que “fazemos” demasiado overrated no nosso mundo? Não será aquilo que nós efectivamente “somos” muito mais interessante que aquilo que “temos”? Não tornaria as conversas de circunstância bem mais interessantes falar sobre isso?

Véspera de Feriado. Copos pelo Bairro Alto. O costume na Tasca dos Canários. Eis que o assunto aparece. Aquele que gera discussão generalizada. Não é religião desta vez. Ou futebol. Deixemos isso para outras “touradas”. É política.

Ou és do Benfica ou do Porto ou do Sporting.

Ou és contra ou a favor da adopção por casais homossexuais.

Ou acreditas em Deus ou não.

Ou és capitalista ou ocupa.

Ou és de Direita ou és de Esquerda.

Tudo se resume a arrumar pessoas em caixinhas estanques. Não estará esse processo todo errado? Não serão os partidos também uma espécie de seitas às quais temos de nos juntar e acreditar copiosamente em cada medida sem pestanejar? Será assim tão estranho não ter clube de futebol, religião ou cor política? Será assim tão difícil vivermos na nossa nuvem de ideias sem nos colocarem na equipa que joga numa determinada defesa? Não acredito em utopias comunistas exageradas ou no capitalismo desenfreado dos nossos dias e agora? Terei de estar no centro?

Ideias que se opõem. Pontos de vista trocados, invertidos e baralhados. A percepção que o homem é um animal ambicioso e pronto.

Somos muito mais que aquilo que possuímos ou alcançámos. Só temos de falar mais sobre isso.

 

Photo Credits: Calsidyrose / photo on flickr

acrushon
3 Comments
  • Miranda

    Tenho um cunhado cuja questão é sempre “Quanto é que ganhas com isso?”. Nada mais interessa.
    http://bloglairdutemps.blogspot.pt/

    10 Dezembro, 2015 at 16:25 Responder
  • Sara Ferreira

    Concordo perfeitamente. São poucos os que ao fazer essa pergunta estão realmente preocupados connosco, na maioria dos casos a curiosidade é apenas para nos julgar e arrumar onde acharem mais conveniente.

    Gostei muito do blogue. Beijinho

    10 Dezembro, 2015 at 15:20 Responder
    • acrushon

      Obrigada 🙂

      13 Dezembro, 2015 at 23:12 Responder

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