Nas Intermitências da Rotina.
A calma é interrompida. A calma é restabelecida.
A surpresa é mais intensa que a felicidade de realizar um plano. Pelo menos para mim. Tenho sempre aquela sensação que a descoberta intensifica a mesma experiência, caso esta já tenha sido antecipada e programada. É assim que atinjo o meu nirvana. A minha paz e plenitude. Em momentos aleatórios que nada se assemelham ao que esperava viver. A espera e expectativa muda-nos a verdade das coisas. Foi assim que vim parar a Foz D’Égua. Quando na verdade deveria estar por Porto Covo, no Festival Músicas do Mundo. Era essa minha vontade. O plano. Os planos alteram-se. A viagem segue. A viagem segue sempre. Mesmo quando sentimos que não estamos a viajar. A viagem é o nosso dia. A viagem são as escolhas que ocorrem no processo de viver. A viagem não tem de ser para um sítio. Pode ser o sítio nele próprio.
Há uns tempos falava sobre a necessidade parar e recomeçar. É importante fazer estes intervalos continuamente. Entrar nesse processo não apenas quando chegamos ao limite, mas sim nas intermitências da nossa rotina. Para nos fortificarmos e convertermos o que nos incomoda, em energia útil.
Normalmente, para mim, conhecer quase sempre implicada voar. Voar algures. Porque aqui será sempre aqui. A minha terra, pátria e nação. Onde a cultura não choca. É minha. Normalmente é o choque cultural que move os peões viajantes. Ainda assim. Há sempre subculturas ou movimentos que podem ser apreciados ou identificados em cada lugar nosso. Aqui descobri o antónimo de onde cresci. Estou habituada a casinhas brancas, de chaminé simpática e mar de oceano. Neste novo Portugal, vejo casas de xisto em vales com pontes de madeira. O toque do Portugal emigrante mantém-se. O mesmo a que sempre fui eu também habituada. Numa menor mistura de tons anglo-saxónicas pelo ar. Nos montes circundantes, um manto verdejante de árvores imponentes e observadoras, abraçam-nos. Abraçam como quem protege e nos dá este lugar inóspito.
Pela tarde há mais movimento. A tal calma interrompida. Constante burburinho infantil. Som de saltos que colidem com a água. Queixas sobre a água fria. Num frenesim de quem vive as suas férias. Aqui, num Portugal interior e pouco ligado a massas. Chegámos pela horas de almoço e aí a calma impera. A tal calma restabelecida.
Sítios pequenos com almas imensas. Cheias de verdade. Cheias de pureza. Somos tão mais simples aqui. Donos da simplicidade que se distancia na nossa natureza citadina. Da qual nos queremos privar por vezes mas nunca perder. Porque a alma não precisa de calma, mas sim de sossego. Porque já dizia Pessoa.
“Quem tem alma não tem calma”
Por isso escrevo.