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Como não falar da Greta?

Como não falar?

 

Amo demais este mundo. O inesquecível nascer do sol em Myanmar. As dunas de perder de vista do Sahara. As florestas tropicais de Madagáscar. Os arrozais de Bali. A arquitectura pela Índia fora. O calor das pessoas da Colômbia. A street art de Berlim. A pizza de Itália. Os cangurus da Austrália. Podia ficar aqui a descrever sem limite os momentos, e coisas belas que já vi e vivi.

 

Uma nota – Sim, sim. Antes que o digam. Ou que o pensem depois das palavras que vou escrever abaixo. Sou uma privilegiada. E muito grata. Grata todos os dias que acordo até ao minuto que estou a adormecer. Em Sonhos também.

 

Preocupa-me o que vai acontecer a estes locais. Preocupa-me também os que ainda não tive oportunidade de ver. Preocupa-me as pessoas que lá vivem e que querem estar no sítio onde sempre viveram.

 

Porque casa, sabe sempre tão bem.

 

Sabem onde fica o Kiribati? Ou Tuvalu? ________ [tempo para procurarem no Google Maps – não é vergonha nenhuma – eu é que sou obcecada com geografia] __________ sabiam que estão em risco de desaparecer? Vejam esta notícia do The Guardian sobre o facto de Tuvalu  estar a ser engolido pelo oceano ou talvez o Documentário Anote’s Ark sobre o Kiribati. Provavelmente vão dizer que é fake news. A ciência é uma invenção da humanidade e é tudo manipulado. Não liguem.

 

E o bullying?

 

No meio disto tudo…preocupa-me o facto de existir um escrutínio exacerbado a uma miúda de 16 anos que resolveu dedicar-se a uma causa. Qualquer um de nós, muitas vezes não sai do sofá para ir buscar uma mini gelada. Ou para beber aquele café com um amigo que já anda para ser marcado há meses (ou será anos? ). Ou para ir meter o euromilhões. Ou para comprar papel higiénico (enquanto há guardanapos e rolo de cozinha…para quê?).

 

 

Agora…uma miúda que acredita no que diz e luta por isso. É malcriada. Faz caras feias. Parece uma histérica. Devia era ir para a escola. É uma privilegiada.

 

How Dare you?

 

(clicar no título acima caso não tenham visto o discurso)

Achei especialmente graça às fotos com comparações disseminadas brutalmente com uma montagem da Greta e de crianças em situação de pobreza. Imagino que quem partilha isso deve contribuir constantemente para causas sociais. Aposto que nem é só no Natal quando fica bem. É mesmo todos os dias. Super preocupados com os países em desenvolvimento e as suas carências diárias. Depois do Brunch.

 

Outra comparação boa foi com a Malala.

 

A Malala é um exemplo. A Malala é atitude.

 

É uma miúda que nasceu num país com uma cultura diferente e quis educação. Foi baleada. A minha questão é…até quando é que o ser humano vai precisar de viver por comparação? Não podem as duas ter mérito próprio? Só porque uma nasceu na Suécia, não pode dizer que lhe roubaram a infância se é isso que sente?  Não pode abrir a boca porque está a mandar bofetadas de privilégio na cara das inimigas?

 

O que é que uma coisa tem a ver com a outra? Uma metáfora da vidinha que levamos.

 

E essa medida do sucesso humano pelo carro, carreira e a conta bancária? E o curso da Universidade? Quando é que a comparação vai acabar?

 

Vou brincar às comparações também. Já que é assim que a malta entende melhor.

 

Mékié miúdas do Insta? Essas duck faces e fast fashion da moda? Mékie meus putos? Esses games? Muitos destes descritos atrás foram convertidos pela Greta. Em vez de estarem presos ao écran, foram para a rua. O #InfluenceForGood a acontecer.

 

A Greta tem os seus ideais e luta por eles. Ponto Final. Façam o mesmo.

 

Cada um valoriza, o que valoriza. É ok que sejam coisas diferentes. É ok que uma criança sueca possa expressar a sua opinião e desafiar os grandes líderes deste mundo. Nomeadamente quando cada um luta por si, e não para um mundo para todos. Um mundo que exista…sei lá…na loucura…para lá de 2050.

 

Agora vão dizer: “Ah é! Ah é? Então, também é ok que eu ache que esta miúda foi manipulada e que isto é tudo feito”. Sim, claro que sim. Também vai ser ok eu escrever este artigo indignada com isso porque por acaso, a Greta apesar de faltar às aulas, estudou a lição de ciências.

 

Tenho inveja de não ter um décimo da garra que esta cachopa tem. Um orgulho para a sua geração.

 

Não há tempo. Não temos mais tempo.

 

“Porque amanhã sabes bem
É sempre longe demais”

Rádio Macau

 

Ps – É que estou mesmo irritada com isto! E amo demasiado este mundo.

 

 

Photo Credits – Photo by Markus Spiske on Unsplash

acrushon
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