A bateria casou-se com um par de sapatos.
Vivemos rodeados de estereótipos. Rótulos que se carimbam na testa. Queremos fugir do padrão. Ou pelo menos devíamos tentar fugir da corda que nos agarra ao que é suposto e esperado. Tal como na vida, na música fugir dos estilos é o que nos pode tornar únicos e desejados.
A ideia inicial dos “Les Crazy Coconuts” era fazer uma banda que fizesse canções sem preocupação de estilos. Independentemente de ser kuduro progressivo ou metal com ferrinhos, se soasse bem, seria algo a considerar.
Eis que o casamento acontece. Um casamento fora das regras. O sapateado e a bateria. Decidem celebrar este elo no campismo de Paredes de Coura. Não fazia grande sentido e faltava ali qualquer coisa. As relações a três podem ser bastante proveitosas se a soma das parte for maior que o todo. Convidam um terceiro que canta e toca guitarra e teclas. Juntam-se para deixar a aleatoriedade fluir. E assim nasce este trio que tenta explorar o conceito de canção e de ritmos, aliando o sapateado a vários géneros musicais.
A sua estreia foi com a compilação “Leiria Calling” e foram considerados a melhor banda nacional no festival Termómetro. Daí aos palcos do NOS ALIVE! ou Paredes de Coura foi um instante. Apresentam-nos agora um disco que é uma viagem sonora, sem qualquer tipo de pausas, onde homenageiam o conceito de programa de rádio de autor. Recuam aos anos dourados, às décadas de trinta e quarenta dos Estados Unidos, onde tanto do sapateado ou a rádio imperaram. No vídeo Belong é possível reter a irreverência do som e da mensagem.
No dia 10 de Dezembro tive a oportunidade de ver a banda ao vivo no MusicBox devido ao artigo que escrevi sobre eles na Le Cool Lisboa. A expectativa era elevada e não desiludiu. A junção do sapateado com os outros instrumentos é de facto diferenciador. Torna toda a sonoridade uma surpresa. Não sabemos como vai encaixar, como vai fluir. Ficamos sempre à espera de mais. Numa alma Indie que se emparelha com o tilintar dos sapatos na plataforma de madeira.
Ao ritmo dançante fomos sendo presenteados com energia na cadência certa. Confesso que embora tenha ficado muito impressionada com o sapateado, coreografia e toda a expressão corporal da rapariga que traz a performance e a alma ao projecto, senti que o seu olhar se focava no vazio e isso desconcentrou-me um pouco da música. Nervos talvez.
Pena que com tão boa programação musical, a sala estivesse tão vazia. Merecia mais. Merecia casa cheia.