Todos amam Lisboa.
Descobriu-se a pólvora no mundo. Algo que nós portugueses, sempre muito à frente do nosso tempo, já sabíamos. Nós, que descobrimos esse mundo fora, deixámos a nossa marca por vários continentes, não temos dúvidas. A nossa capital é incrível. Com a sua face solarenga, do alto das suas sete colinas, faz-nos perder por Alfama e sorrir no Miradouro da Senhora do Monte.
Lisboa está na moda de um modo exagerado que me assusta. Chamem-me possessiva, mas gostava que ela fosse mais minha e de quem a habita. Compreendo no entanto. É como a miúda gira que entra na festa espampanante de vestido vermelho. Deixa todos boquiabertos. Mas esta miúda gira foi aquela adolescente gordinha, que ninguém ligava. Estava ali, na ponta da Europa, perdida e sozinha. De vez em quando a vizinha Espanha muito mais extrovertida, acabava por a desafiar a sobressair mais. Ela manteve-se sempre calma e pouco espevitada. De repente, tudo mudou. Tornou-se interessante, com garra e sedutora.
Desde o tão falado websummit, como o turismo desenfreado ou outros eventos que escolhem Lisboa para se implementarem, esta pequena cidade à beira-mar plantada tem dado que falar na imprensa internacional. Todos os dias há novos artigos que falam de como Lisboa é apetecível, barata e maravilhosa. Gera-se novos investimentos e a cidade está a renovar a olhos vistos. Todos os prédios podres se erguem com novas vestes. Novos restaurantes, ambientes cosmopolitas e festas inúmeras. Cada vez há mais coisas a acontecer. Quem fica em casa é certamente porque quer.
Lisboa ganha classe. Lisboa é alternativa. Lisboa é linda e special. Mas Lisboa também deveria ser mais nossa. Porque nós, gostamos dela como ninguém. Gostava de ver ainda mais coisas que permitissem a quem a habita todos os dias, quem acorda de manhã na cama com ela 365 dias por ano, pudesse conseguir ficar. As rendas máximas da Porta 65 não fazem sentido face ao mercado. Encontrar uma casa que se possa pagar é um achado como diz este artigo. As rendas das lojas são algo inacreditável. Não há como quem ama esta cidade, possa contribuir com a sua arte ou talento. É como aquela namorada a quem nunca vamos conseguir agradar. Porque ela está muito acima de nós. Habituada a viver com uma fasquia bem mais alta do que lhe podemos dar. Porque chegam outros e tentam roubá-la de nós. cada dia que passa está mais longe do nosso alcance.
Mas quando se ama, fazemos tudo. Aguentamos tudo. Tentamos mudar as coisas aos poucos.
Tentaremos. Certo?