Auto-estima, Procura-se. Clones, dispensam-se.
A auto-estima perdeu-se. É melhor pôr cartazes por aí. Colar em todas as árvores e paredes. Chamem o Correio da Manhã. Passem a mensagem. Se todos passarmos a mensagem, iremos certamente encontrá-la. Porque unidos somos mais fortes. Porque precisamos todos dela.
Isto está longe de ser um texto de auto-ajuda. É mais uma chamada de atenção ao valor que damos às coisas que se dizem e aos estereótipos de beleza pré-concebidos.
Todos nós fazemos este tipo de juízos. “A Marta está mais gorda, não achas?”, “Ouvi dizer que a Ana pôs maminhas, não se sentia bem com o corpo que tinha”, “O Luís agora vai todos os dias ao ginásio para definir os músculos e ficar todo saradão” e assim sucessivamente. Quando vamos parar de julgar as pessoas pelo físico? Uma coisa é a saúde. Com a saúde não se brinca. Outra coisa são os ideais de beleza do mundo em que vivemos. Nada contra quem modifica o corpo. Quem quer ser diferente. Aceito e não condeno. Não consigo dizer que compreenda. Porque o que define o que somos não é a nossa figura física e assim aquilo que dizemos e pensamos. Mais do que isso. As atitudes que temos.
É verdade que existe sempre uma química que aproxima as pessoas. Algo que não conseguimos entender mas que nos puxa a conhecer melhor alguém em detrimento de outra pessoa. Isso não se explica. É por essa razão que não percebo aplicações como o Tinder. Juro que tentei. O ano passado quando fiquei solteira, aconselharam-me a entrar no mundo digital do Tinder e do Happn. Assim foi. Sentei-me no meu sofá, munida de pipocas e toca de fazer swipe para a esquerda e direita.
Depois fui dormir e fiquei a pensar nisso. Escolher pessoas por fotos? Pela maneira como se apresentam? Simplesmente assim? E as pessoas que não são fotogénicas? E aqueles rapazes que apesar de não serem deuses gregos, nos podem fazer rir e ter um humor incrível? E as pessoas cultas? Como é que eu vou saber se aquele rapaz giro com ar de surfista consegue articular mais que a palavra “pão”? Chamem-me velha, tradicional…o que quiserem. Mas a química, a troca de olhares e os sarcasmos são algo com mais fervor. Mais borboletas no estômago. Mais entusiasmo. E a química por vezes não escolhe os corpos mais musculados ou esculturais. Quantas vezes não damos por nós a dizer que a pessoa com quem estamos não faz muito o nosso género?
Não sou uma miúda muito bonita. Sou normal. Toda a minha adolescência sofri dos dramas do costume de qualquer adolescente. Maminhas em vias de extinção, ossos muito salientes no peito, nariz de arara e mãos muito feias e disformes. O meu mindinho é uma coisa do outro mundo. Nunca vi um mindinho tão pequeno e gordinho.
No entanto, aprendi com alguns pontapés que levei, a balela que mais se vende.
Temos de gostar de nós próprios. Sim, sim. É clichê. Sim, sim, é óbvio e já se disse e repetiu para lá de milhares de vezes. Mas é real. Vivemos no mundo em que todos comentam cada defeito visível a olho nú e parece que todos nós devemos caminhar para a perfeição clonada. Todos com as mesmas vestes e medidas. Todos magros com pele de bebé e na moda. Clones uns dos outros. Iguais.
Normalmente, as pessoas dizem-me: “Ah…dizes isso porque és magra. E podes comer tudo”. Sim, é verdade. Eu sou magra e posso comer tudo. Se me acompanham, já devem ter visto o meu artigo sobre os problemas de ser magra. Preocupa-me até numa óptica mesmo de saúde.
Se vemos um miúdo mais gordinho no Mc Donald’s mandamos logo uma boca. E gordas de leggings? Merece sempre um reparo. E miúdas que são lisas como tábuas? Será que nunca ouviram falar de silicone? Deixemo-nos de julgar isso e preocupemo-nos mais com as nossas acções. Se as pessoas forem saudáveis, qual é o problema?
A existência humana é maravilhosa pela sua diferença e temos sempre algo a aprender com os outros. Mesmo que gordos, altos, baixos, carecas ou pobres. Mas o mais inconcebível para a maioria das pessoas, é que alguém que tenha defeitos, se sinta bem como é. Tenha encontrado a sua auto-estima. Parece uma coisa de outro mundo. Algo inexplicável.
Preocupamo-nos com os problemas do mundo? Temos conversas profundas e existenciais? Queremos conhecer mais e ser mais cultos? Desenvolvemos o nosso eu em busca de nos tornarmos pessoas mais altruístas e menos preocupadas com a nossa aparência e as coisas que possuímos? Talvez isso seja mais importante.
Ok. Aqui entro no domínio de quem dá mais valor à inteligência de alguém que ao seu corpo. E isso é discutível. A minha química puxa-me para aí e até tenho um lema que alguns amigos meus conhecem em relação a esta questão. Numa análise de cariz total e não apenas sexual, tendo a atrair-me por pessoas com bom humor, divertidas e inteligentes. Este talvez seja o meu padrão. Não que em todas as relações o objectivo seja ficar com aquela pessoa para sempre e encontrar a felicidade eterna. Mas envolver-me-ia mais facilmente com alguém com uma piada inteligente ou até sarcástica do que com uma cara bonita. Não digo que seja o certo.
Deixo aqui a questão. Inteligência ou Beleza? Both? Óptimo.
Acredito que seja uma coisa mais de raparigas. A maneira que penso. Muito provavelmente. E agora uma frase polémica. Ou talvez seja de seres mais evoluídos. Não é o pensamento e o raciocínio o que nos distingue dos animais? Será que as pessoas que tendem a ligar mais ao racional que ao carnal e físico são seres que evoluíram dentro da sua espécie?
E sendo eu rapariga, apesar de ser quase sempre “one of the guys” no meu grupo de amigos. Deixo aqui a mensagem. Miúdas. Mais Auto-estima precisa-se. Não precisam de se achar a última coca-cola do deserto. Até porque isso é das coisas que mais irritam. Mas esqueçam estereótipos. Há razões pelas quais a clonagem não existe.
sandra
gostei muito deste artigo e concordo plenamente contigo. Existir por si só já é algo maravilhoso, exploremos o facto de existir e tudo o resto tornar-se-á muito pequeno.
Maria Vezo
Eu concordo plenamente, em outras palavras o interior é o que devemos dar mais importância e cuidar para que a cada dia desenvolvamos os nossos conhecimentos e habilidades, dessa forma nos tornamos melhores para nós mesmos e para o nosso mundo.
Mas, também sei que se eu sou bonita por dentro se me prezo como pessoa o meu exterior deve apresentar ao mundo o meu interior (formoso),não estou a dizer que devemos partir para a cirurgia plástica, mas investir na aparência pode também te despertar para você mesmo e aumentar a sua autoestima.
acrushon
Olá Maria 😉 O interior sempre em primeiro lugar <3 <3
Scrubsandjeans
De acordo na questão do Tinder (e outras…). Transcende-me o conceito de julgar pela foto, sem gestos, expressões e impressões…